sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Martim Afonso de Sousa

CAPITÃO DONATÁRIO DA CAPITANIA DE SÃO VICENTE
Meu 17º Avô paterno
Dados Biográficos

Nascido em 1490, em Vila Viçosa.
Falecido em 21 de Julho de 1564, em Lisboa.
Árvore de Costados
Filho de Lopo de Sousa, Senhor do Prado, e de Dona Brites de Albuquerque.
Casa Real
Descendente por linha bastarda de Dom Afonso III, Rei de Portugal.
Títulos
Senhor de Prado e de Alcoentre
Pequena Biografia
Parente do Conde de Castanheira, Dom Antonio de Ataíde, tão influente sobre o Rei Dom João III de Portugal, Martim de Sousa foi Senhor de Prado, e Alcaide-mor de Bragança e mais tarde Governador da India e do Estado do Brasil. Serviu algum tempo ao Duque de Bragança.
Dom Teodósio I mas «como era de um espírito elevado e queria esfera onde se dilatasse em coisas grandes, largou a Alcaidaria mor de Bragança e outras mercês que tinha do Duque, para servir ao Príncipe D. João, filho do rei D. Manoel. Depois foi a Castela e esteve algum tempo em Salamanca; e voltando a Portugal, Dom João III, que já então reinava, o recebeu com muita estimação e honra porque Martim Afonso de Sousa foi um fidalgo em quem concorreram muitas partes, porque era valeroso, dotado de entendimento e talento grande».
Acompanhou a rainha viuva D. Leonor a Castela.
Iniciou sua carreira de homem de mar e guerra em 1531na armada que o rei determinou mandar ao Brasil, nomeado desde fins 1530 em razão dos següintes fatores: por ser primo-irmão de D. Antonio de Ataíde, membro do Conselho Real, e ter forte influência junto ao Rei.
Estudou Matemática, Cosmografia e Navegação.
Havia vivido quatro anos na Espanha, onde se casou com D. Ana Pimentel, dama da Rainha Católica, irmã de D. Bernardino Pimentel, 1º Marquês de Tavara, filhos de D. Pedro Pimentel, senhor de Tavara, comendador de Castro-Torense na Ordem de Santiago, o qual morreu em 6 de fevereiro de 1504, e irmã de D. Rodrigo Afonso Pimentel, 3º conde de Benavente. O casamento foi feito por D. Pedro, que dotou a filha, com assistência do irmão, o conde de Benavente, sendo o contrato de casamento firmado em Tordesilhas.
Lutou sob Carlos V contra os franceses.
Embora a historiografia tradicional encare sua expedição como a primeira expedição colonizadora , o Regimento a ele passado permite compreender que o principal objetivo de sua missão era colocar padrões de posse portugueses em toda a área da bacia do Rio da Prata , o que não alcançou em função de ter naufragado na região. Diz-se que sua nomeação como governador compreendia a missão de expulsar franceses, descobrir terras, explorar o rio da Prata e fundar núcleos de povoamento.
Partiu de Lisboa ao dia 3 de Dezembro de 1530 com quatro naus, tendo como imediato o irmão Pero Lopes de Sousa e transportando cerca de 400 pessoas.
Depois de percorrer todo o litoral até a foz do Rio da Prata , onde sobreviveu a um naufrágio, como desdobramento de sua missão, retornou à região de São Vicente em 21 de janeiro de 1532 e, e com ajuda de João Ramalho e Antonio Rodrigues, moradores da região que haviam feito amizade com os caciques Tibiriçá (V. Meus 15º Avós) e Caiubi . Na região do planalto e ainda graças a João Ramalho, estabeleceu em Piratininga uma pequena aldeia de duração efêmera.
Em São Vicente, iniciou a cultura da cana-de-açúcar e ordenou a instalação do
Engenho dos Erasmos.
Combateu corsários franceses no litoral e foi agraciado pela Coroa portuguesa, sob o reinado de Dom João III como capitão-donatário de dois lotes de terras no Brasil: a Capitania de São Vicente. Desde outubro de 1532, recebera comunicação do rei de que o imenso território seria dividido em extensas faixas de terras: as capitanias hereditárias. Na ocasião, foram-lhe doadas cem léguas na costa e recebeu autorização de retornar a Lisboa.
Sua expedição trouxe para o Brasil, como ferreiro contratado por dois anos, para prover as necessidades de ferro da expedição e da colônia, o mestre Bartolomeu Fernandes, também conhecido como Bartolomeu Gonçalves (V. Meus 12º Avós) e Bartolomeu Carrasco. Terminado o contrato, mestre Bartolomeu fixou-se em solo paulista, tornando-se proprietário do sítio dos Jeribás e instalando, nas margens do Jurubatuba, afluente do rio Pinheiros, na vila de Santo Amaro (São Paulo), a primeira forja do Brasil para produção de aço - fato mencionado pelo padre José de Anchieta, em 1554. Com quatro operários conseguiu-se produzir e forjar 100 quilos de ferro em seis ou sete horas, consumindo 450 quilos de carvão vegetal.
A partida
Nomeado capitão-mor do Mar das Índias (1533), foi encarregado de proteger as possessões de Portugal no Oriente. Defendeu a feitoria de Diu contra mouros e hindus, derrotou o rajá de Calicute e combateu os corsários que saqueavam as embarcações portuguesas na região. Vitorioso, foi nomeado por D. João III, em 1542, vice-rei das Índias.
Há controvérsia quanto ao fim de sua carreira. Alguns historiadores afirmam que ele retornou a Portugal em 1545 ou 1546, tornando-se um dos membros do Conselho de Estado. Outros sustentam que foi chamado de volta sob a acusação de desvio de dinheiro da Coroa e enriquecimento ilícito, mantendo-se afastado da vida pública até morrer.
Cartas recebidas
Na carta de 20 de novembro de 1530 D. João III, rei de Portugal, confere-lhe jurisdição sobre os tripulantes da armada e sobre todos os habitantes da Colônia.
Carta de Grandes Poderes ao capitão-mor, e a quem ficasse em seu lugar.
D. João & A quantos esta minha carta de poder virem faço saber que eu a envio ora a Martim Afonso de Sousa do meu conselho por capitão-mor da armada que envio à terra do Brasil e assim de todas as terras que ele dito Martim Afonso na dita terra achar e descobrir, e, porém, mando aos capitães da dita armada, e fidalgos, cavaleiros, escudeiros, gente de armas, pilotos, mestres, mareantes e todas as outras pessoas, e a quaisquer outras de qualquer qualidade que sejam, nas ditas terras que ele descobrir ficarem e nela estiverem ou a ela forem ter por qualquer maneira que seja, que haja ao dito Martim Afonso de Sousa por capitão-mor da dita armada e terras e lhe obedeçam em tudo e por tudo o que lhes mandar e cumpram e guardem seus mandados assim e tão inteiramente como se por mim em pessoa fosse mandado, sob as penas que ele puser; as quais com efeito dará a devida execução nos corpos e fazendas daqueles que o não quiserem cumprir, assim, e além disso lhe dou todo poder e alçada, mero e misto império, assim no crime como no cível sobre todas as pessoas assim da dita armada como em todas as outras que nas ditas terras que ele descobrir viverem e nela estiverem ou a ela forem ter por qualquer maneira que seja, e ele determinará seus casos feitos assim crimes como cíveis e dará neles aquelas sentenças que lhe parecer justiça conforme a direito e minhas ordenações até morte natural inclusive, sem de suas sentenças dar apelação nem agravo, que para tudo o que é dito é e tocar a dita jurisdição lhe dou todo poder e alçada na maneira sobredita, porém se alguns fidalgos que na dita armada forem e na dita terra estiverem ou viverem e a ela forem cometer alguns casos-crimes por onde mereçam ser presos ou emprazados ele dito Martim Afonso os poderá mandar prender ou emprazar segundo a qualidade de suas culpas o merecer e mos enviará com os autos das ditas culpas para cá se verem e determinarem como for justiça, porque nos ditos fidalgos no que tocar nos casos-crimes hei por bem que ele não tenha a dita alçada; e bem assim dou poder ao dito Martim Afonso de Sousa para que em todas as terras que forem de minha conquista e demarcação que ele achar e descobrir possa meter padrões e em meu nome tome delas Real e autoral e tirar estormentos, e fazer todos os outros autos isso lhe dou especial e todo cumprido poder, como para todo ser firme e valioso requerem e se para mais firmeza de cada uma das necessárias de feito ou de direito nesta minha carta de poder irem declaradas alguma cláusulas mais especiais e exuberantes eu as hei assim por expressas e declaradas como se especialmente o fossem posto que sejam tais e de tal qualidade que de cada uma delas fossem necessário se fazer expressa menção e porque assim me de todo apraz, mandei disso passar esta minha carta ao dito Martim Afonso assinada por mim e selada do meu selo pendente, dada em a Vila de Castro Verde aos XX (20) dias do mês de novembro. Fernão da Costa a fez, ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil bcxxx (1530) anos e eu André Piz a fiz escrever e sobrescrevi; e se o dito Martim Afonso em pessoa for, algumas partes ele deixará nas ditas terras que assim descobrir por capitão-mor e governador em seu nome a pessoa que lhe parecer que o melhor fará ao qual deixará por seu assinado os poderes de que há de usar que serão todos ou aquela parte destes nesta minha carta declaradas que ele obedecido como ao dito Martim Afonso sob as penas que nos ditos poderes que lhe assim deixar forem declaradas; e no que toca a emprezamento dos fidalgos que em cima é declarado por alguns justos respeitos hei por bem que o dito Martim Afonso os não empraze e quando fizerem tais casos por onde mereçam pena alguma crime ele prenderá e mos enviará presos com os autos de suas culpas para se nisso fazer o que for justiça.
Carta de Poder para o capitão-mor criar tabeliães e mais oficiais de justiça.
Dom João & A quantos esta minha carta virem faço saber que eu envio ora a Martim Afonso de Sousa do meu conselho por capitão-mor da armada que envio à terra do Brasil e assim das terras que ele na dita terra achar e descobrir; e porque assim para que tomar a posse delas como para as coisas da Justiça e governança da terra serem ministradas como devem, será necessário criar e fazer de novo alguns oficiais assim tabeliães como quaisquer outros que vir que para isso forem necessários, por esta minha carta de poder ao dito Martim Afonso para que ele possa criar e fazer dois tabeliães que sirvam das notas e judicial, que logo com ele daqui vão na dita armada, os quais serão tais pessoas que o bem saibam fazer o que para isso sejam aptos aos quais dará suas cartas com o traslado desta minha para mais firmeza, e estes tabeliães que assim fizer deixarão seus sinais públicos que houverem de fazer na minha chancelaria, e se depois que ele dito Martim Afonso for dita terra lhe parecer que para governança dela são necessários mais tabeliães que os sobreditos que assim daqui há de levar isso mesmo lhe dou poder para os criar e fazer de novo, e para quando vagarem assim uns como os outros ele prover dos ditos ofícios as pessoas que vir que para isso são aptas e pertencentes; e bem assim lhe dou poder para que possa criar e fazer de novo e prover por falecimento dos quais os ofícios da justiça e governança da terra que por mim não forem providas que vir que são necessários, e os que assim por ele criados e providos forem hei por bem que tenham e possuam e sirvam os ditos ofícios como se por mim, por minhas provisões, os fossem e porque assim me disso apraz lhe dei esta minha carta de poder ao dito Martim Afonso por mim assinada e selada com o meu selo para mais firmeza, dada em Vila de Castro Verde a XX (20) dias de novembro. Fernão da Costa a fez, ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil bcxxx (1530) anos. E eu André Piz a fiz escrever e sobrescrevi.
Carta para o capitão-mor dar terras de sesmaria
Dom João & A quantos esta minha carta virem faço saber para que as terras que Martim Afonso de Sousa do meu conselho descobrir na terra do Brasil onde o envio por meu capitão-mor se possam aproveitar, eu por esta minha carta lhe dou poder para que ele dito Martim Afonso possa dar às pessoas que consigo levar, às que na dita terra quiserem viver e povoar, aquela parte das terras que assim achar e descobrir que lhe bem parecer e segundo o merecerem as ditas pessoas por seus serviços e qualidades para as aproveitarem; e as terras que assim der será somente nas vidas daqueles a que as der e mais não e as terras que lhe parecer bem poderá para si tomar porém tanto até me fazer saber e aproveitar e granjear no melhor modo que ele puder e vir que é necessário para bem das ditas terras; e das que assim der às ditas pessoas lhes passará suas cartas declarando nelas como ilhas dá em suas vidas somente e que de dentro em seis anos do dia da dita data cada um aproveitar a sua e se no dito tempo assim o não fizer as poderá tornar a dar com as mesmas condições a outras pessoas que as aproveitem e nas ditas cartas que lhes assim der irá trasladada esta minha carta de poder para se saber a todo tempo como o fez por meu mandado e lhe ser inteiramente guardada a quem a tiver; e o dito Martim Afonso me fará saber as terras que achou para poderem ser aproveitadas e a quem as deu e quanta quantidade a cada um e as tomou para si e a disposição delas para o eu ver e mandar nisso o que me bem parecer e porque assim me apraz lhe mandei dar esta minha carta por mim assinada e selada com o selo pendente, dada em a Vila de Castro Verde a XX (20) dia do mês de novembro. Fernão da Costa a fez, ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo mil bcxxx (1530) anos.
[Copiadas da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 24 (1° trimestre), 1861, pp. 74-79, apud Darcy Ribeiro & Carlos de Araujo Moreira Neto (orgs.) «A fundação do Brasil: Testemunhos, 1500-1700». Petrópolis: Vozes, 1992, pp.136-8.
Retorno ao Reino

Já em 1534 se achava em Portugal. D. João III o mandou servir na India com o posto de Capitão-Mor do mar Indico. Embarcou na Armada de cinco naus, que governava.
Na India

Chegando à India, diz a «História Genealógica da Casa Real Portuguesa» volume XIV página 241: «o Governador Nuno da Cunha refletiu que elRei em Martim Afonso de Sousa lhe mandava não só o Capitão mor do mar, mas companheiro, e sucessor no Governo. No fim deste ano, o Governador o meteu de posse, mandando-o sobre a praça de Damão, situada do Reino de Cambaia, com 40 velas, e 500 portugueses, que rendeu, sendo mortos quase todos os inimigos, e a Fortaleza foi arrasada. O rei de Cambaia, temendo maiores perdas, querendo na amizade dos nossos evitá-la, pediu pazes ao Governador do Estado Nuno da Cunha, que foram juradas solenemente com a condição de dar a ElRei de Portugal para sempre Baçaim». Foram duras condições de direitos a pagar, que se vieram a moderar quando se concedeu levantar-se a Fortaleza de Diu, conseguida por negociações por Martim Afonso de Sousa quando no ano de 1535 se achava em Chaul.
Em 1536 Martim Afonso foi mandado à costa do Malabar «e destruiu e assolou todos os lugares marítimos do Reino do Çamorim, que estava com seus aliados todos os Príncipes de Repelim, que destruiu. Estas e outras empresas lhe conseguiram o respeito e temos na Asia e voltando para o Reino, sucedeu depois a morte do Vice-Rei D. Garcia de Noronha, que foi a 3 de abril de 1540; e aberta a via de sucessão, se achou nomeado Martim Afonso de Sousa; e como havia voltado para o Reino, sucedeu D. Estevão da Gama no governo, que os seus parentes quiseram dilatar; porem o Conde da Castanheira, primo de Martim Afonso, o fez nomear para Governador da India, para onde partiu a 7 de abril de 1541 com quatro naus, levando consigo a São Francisco Xavier; (...) entrou em Goa a 6 de maio de 1542. (...) Em 1545 lhe sucedeu D. João de Castro.
Volta ao Reino

Foi senhor de Alcoentre, que comprou ao Marquês de Vila Real. Instituiu um morgado e foi donatário das capitanias de Santa Ana e São Vicente na costa do Brasil, e do Conselho do Rei D. João III, comendador de Mascarenhas na Ordem de Cristo.
Casamento

Casado, por volta de 1510, com Dona Ana Pimentel.
Foram Pais de:
1.
Pedro Lopes de Sousa
Senhor de Alcoentre
Alcaide-mor de Rio Maior
Capitão donatário das Capitanias de Santa Ana e São Vicente, no Brasil
Casado com Dona Ana da Guerra.
2.
Lopo Rodrigues de Sousa
Morto ao acompanhar o pai à India
3.
Rodrigo Afonso de Sousa
Bispo de Viseu
Falecido em 1597, em Lisboa.
Entrou na Ordem de S. Domingos e professou como Frei Antonio de Sousa.
Foi eleito Prior de S. Domingos em Lisboa, Provincial no ano de 1550, Mestre da Ordem e pregador do rei D. Filipe II. Em 1580 passou a Roma, ap Capítulo Geral da Ordem. O papa Clemente VIII o nomeou Vigário Geral de toda a Ordem dos Pregadores em 1594. Foi nomeado Bispo de Viseu em 1595, tendo governado com prudência. Morreu em maio de 1597.
4.
Gonçalo Rodrigues de Sousa
Morto sem sucessão.
5.
Inês Pimentel
Nascida por volta de 1530.
Casada com Dom Antonio de Castro, 4º conde de Monsanto.
6.
Brites Pimentel
Morreu estando comprometida com Dom Dinis de Ataíde, mais tarde 3º Conde de Atouguia e Vice-Rei na India.
Martim Afonso de Sousa teve ainda os filhos bastardos:
7.
Tristão de Sousa
Nascido por volta de 1520.
Passou a Índia e foi Capitão de Moluco.
8.
Isabel Lopes de Sousa
Casada com Estevão da Costa
Meus 16º Avós

Fonte
Wikipedia

Tiradentes

JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER
Herói nacional e Patrono Cívico da Nação Brasileira
"Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria pelo Brasil."
Filho de Domingos da Silva dos Santos e de Dona Antonia da Encarnação Xavier
Meus 8º Avós
Dados Biográficos
Nascido em 6 de... de 1746, em São José Del Rei, na Fazenda do Pombal, na antiga comarca do Rio das Mortes. Batizado em 12 de Dezembro de 1746. Falecido em 21 de Abril de 1792, no Rio de Janeiro.
Árvore de Costados
Filho de Domingos da Silva dos Santos e de Dona Antonia da Encarnação Xavier. Neto paterno de André da Silva e de Dona Mariana da Matta. Neto materno de Domingos Xavier Fernandes e de Dona Maria de Oliveira Colaço. Bisneto materno de Domingos Rodrigues e de Dona Catarina Fernandes. Bisneto materno de Antonio de Oliveira Setúbal e de Dona Isabel de Oliveira Colaço. Terceiro neto materno de João Fernandes e de Dona Esperança Fernam. Terceiro Neto materno de Antonio Fernandes Souto e de Dona Maria Rodrigues. Quarto neto materno de Hieronimo Setubal e de Dona Brazia de Oliveira. Quarto neto materno de Antonio de Oliveira Gago e de Dona Ana da Cunha. Quinto neto materno de Martinho de Oliveira Gago e de Dona Catarina Pereira Sardinha. Quinto neto materno de Antonio da Cunha e de Dona Paula Gonçalves. Sexto neto materno de Pedro Colaço e Juliana de Oliveira. Sexto neto materno de Manuel da Cunha e Catharina Pinto. Sétimo neto materno de Pedro Colaço Vilela e Brígida Machado. Sétimo neto materno de Manuel de Oliveira Gago, o Velho, e Felipa da Mota. Sétimo neto materno de Salvador Teixeira da Cunha e Maria Mendes. Oitavo neto materno de Antonio de Oliveira e de Dona Genebra Gago. Oitavo neto materno de Vasco Pires da Motta e de Felipa Gomes da Costa. Nono neto materno do Dr. Aniceto Vaz da Motta e de Dona Filippa de Sá. Nono neto materno de Estevão da Costa e de Dona Isabel Lopes de Sousa. Décimo neto materno de Martim Afonso de Sousa.
Emancipação
Em requerimento de 1767, solicita a sua emancipação:

“Diz Joaquim José da Silva Xavier, filho legítimo de Domingos da Silva Santos, já defunto, e de sua mulher, Antônia da Encarnação Xavier, natural da Villa de São José, comarca do Rio das Mortes, distrito das Minas Gerais, que ele suplicante, se acha com vinte anos completos, como consta da certidão de idade inserta no instrumento junto; e porque estár vivendo tratando de negócios da fazenda e tem capacidade para governar e administrar os seus béns, como justificou perante o juiz dos órfãos daquele distrito, do que se lhe passou o dito instrumento junto, e como quer se digne Vossa Majestade conceder-lhe promissão de suplemento de idade, dispensando –lhe na lei, para com ela poder requerer a entrega a sua legitima, pede a Vossa majestade seja servido conceder-lhe a dita promissão. ERM. Joaquim Alves Muniz". Pagou na chancelana 880rs, Rio de janeiro 20/07/1761, Castelo Branco.

Autos de Devassa da Inconfidência Mineira
Volume 9 - Câmara dos Deputados, Brasília, 1977, p. 14 e 15
O Padrinho
Afilhado de Sebastião Ferreira Leitão.
Viagem ao Reino

Antes de 1788 fez requerimento pedindo licença para viajar ao Reino.
Requerimento de Joaquim José da Silva Xavier, alferes de cavalaria de Minas Gerais, solicitando a D.Maria-I a mercê de lhe conceder licença para se deslocar ao Reino.
Centro de Memória Digital
Documento 65517
Pequena Biografia
I. AS ORIGENS
Joaquim José da Silva Xavier nasceu na Fazenda do Pombal, propriedade de seu pai situada na circunscrição territorial da Vila de São João Del Rei, em 1746, provavelmente. Não há registro de seu nascimento, apenas do batismo, ocorrido em 11 de Novembro de 1746, na Matriz de Nossa Senhora do Pilar na Vila de São João del Rei-MG.

Os seus Pais
Domingos dos Santos Silva era natural do Reino, nasceu em Santo André,
Celorico de Basto, Portugal. Dona Antonia da Encarnação Xavier foi batizada em 4 de dezembro de 1721 em Tiradentes. Eles se casaram em 30 de junho de 1738, em São João Del Rei,
Minas Gerais.

Elite Branca e Civil
Domingos dos Santos pertencia à elite branca civil e servira como Almotacé - fiscalizador de pesos, medidas e preços e distribuição de alimentos – na Câmara da Vila de São José Del Rei. Antes servira como Procurador dos Reais Quintos no Arraial do Bichinho, distrito da mesma Vila.

Cristãos Velhos
Nos processos de habilitação de dois irmãos de Tiradentes ao sacerdócio, foi declarado que pertenciam à raça branca, que eram "cristãos velhos", sem qualquer mistura de negros, mulatos, judeus ou árabes, condição indispensável para serem ordenados padres. Tiradentes pertencia, portanto, à nobreza civil, que diferia da titulada, e a que se chegava pelo sangue e pelo exercício de determinadas funções públicas de confiança do Estado. Além disso, seu posto de Alferes era privativo dessa nobreza civil. A palavra "Alferes", do árabe, significa "o Cavaleiro".

A Orfandade
Sua mãe faleceu em 2 de dezembro de 1755 e seu pai dois anos depois, em 12 de dezembro de 1757. Portanto, Tiradentes ficou órfão de mãe aos 9 anos, e de pai aos 11 anos e a família se dispersou, ficando aos cuidados de parentes próximos. Tiradentes ficou aos cuidados do seu tio e padrinho, Sebastião Ferreira Leitão, cirurgião-dentista registrado e que possuía lavras de mineração.

O Inventário da Mãe
Pelo inventário da mãe, aberto em 1756, sabe-se que a família não era pobre, como já se disse muitas vezes. A fazenda do Pombal era grande, nela trabalhavam 35 escravos, inclusive em mineração. A casa tinha dois pavimentos: O alpendre dava entrada, por fora, a um oratório particular. Havia senzalas e cozinhas coletivas. A família possuía um numeroso e valioso instrumental de ferro para minerar, relacionado, por sua importância, no inventário.
II. A RELIGIOSIDADE
Os Padres na Família
Além dos dois irmãos, Domingos e Antônio, Tiradentes tinha vários primos padres: Frei José Mariano da Conceição Velloso, com nome de batismo José Velloso Xavier, filho de sua tia Rita Xavier, irmã de sua mãe. Padre Antônio Rodrigues Dantas, filho de outra tia, Catarina, que teve mais dois filhos padres. Do Padre Antônio Dantas, pouco se sabe, a não ser que foi brilhante latinista, autor de uma obra, “Sintaxe Latina”, que teve grande repercussão.

A Devoção à Santíssima Trindade
Tiradentes era católico. Fora batizado, como já vimos, criado entre católicos e tinha dois irmãos padres e batizou a sua filha. Historiadores lhe atribuem uma devoção especial à Santíssima Trindade, o que se pode confirmar pelos Autos da Devassa. Era religioso, e não sê-lo era fenômeno raríssimo entre os homens do tempo. Várias vezes, enquanto tentava convencer seus ouvintes de suas teorias revolucionárias e seus planos de levante - e estes lhe retrucavam com a dificuldade da empresa, sempre lhes dizia:
"não há de ser nada, Deus está conosco".

Durante o período em que esteve preso teve confessor - o qual acabou admirando-o - e no percurso para o cadafalso apertou um crucifixo contra o peito.
A Influência do Frei Velloso
Frei José Mariano da Conceição Velloso teve importância maior e, certamente, influenciou a vida do Alferes, que era pouco mais novo que ele. Frei Velloso nascera em São José Del Rei em 1741.
Fez seus estudos em Minas, em Mariana. Desenvolveu extraordinária habilidade em Botânica e, no convento do Rio de Janeiro, dedicou-se a pesquisas de campo, classificando mais de 2000 plantas no Vale do Paraíba do Sul, publicando ao final dos trabalhos, em 1790, a monumental obra Flora Fluminense, em onze volumes, talvez o mais vultoso trabalho científico até hoje publicado por um brasileiro. Levado pelo Vice-Rei a Lisboa, ali se tornou cientista de renome, publicando diversos outros livros. Foi sócio da Academia Real de Ciências, com pensão do
Estado no valor de 2.400$000 réis. De volta ao Rio de Janeiro, onde faleceria em 1811, organizou o Jardim Botânico. Tudo faz crer que Frei Velloso, nesse período de intenso trabalho no Rio de Janeiro, nos anos de 1780 a 1790, quando organizou a sua Flora Fluminense, tenha tido contato mais ou menos longo com o primo Tiradentes, pois nesses anos o Alferes revelou extraordinário conhecimento de plantas medicinais, curando várias pessoas e espalhando fama nesse sentido no Rio de Janeiro.
III. A INTELIGÊNCIA
A Inteligência e outras Habilidades
A inteligência técnica polimorfa do Alferes Silva Xavier se revelaria ainda por outros detalhes: era também joalheiro, isto é, sabia lavrar, polir e fazer jóias. Tinha noções econômicas - sabia que, sendo o Brasil independente, poderia facilmente substituir as importações por produtos aqui mesmo fabricados, sendo especialmente fácil a montagem de siderúrgicas, indústrias têxteis e o desenvolvimento do extrativismo mineral. Sua cultura mineralógica não se limitava ao ouro e às pedras preciosas.
A Pólvora
Tiradentes percebeu também a existência em Minas de fontes de salitre, indispensável ao fabrico da pólvora. Chegando José Álvares Maciel em Vila Rica, recém-formado em Engenharia de Minas, Tiradentes conversa sobre a possibilidade de fabricar pólvora. Maciel pergunta pelo salitre e, logo após, o Alferes leva-lhe um tijolo coberto de bolor. No depoimento no processo, Maciel diz que o desenganara, que aquilo não era salitre; mas sabe-se hoje perfeitamente que o mineral pode se apresentar sob essa forma bolorenta. É óbvio que Tiradentes estava mostrando ao químico o bolor e não o tijolo; mas até disso já se aproveitou alguém para deturpar a inteligência do Alferes, dizendo que sua ignorância confundia tijolo com salitre... O fato é que Álvares Maciel admitiu no processo, concretamente, que podia fabricar pólvora em Minas; e antes do processo, perante os outros conjurados, se comprometeu a fazê-lo. Em 1816 foi inaugurada uma fábrica de pólvora em Vila Rica.
Sede de Saber
Tiradentes andava por todos os lados com livros sobre a independência norte-americana
- as Constituições estaduais, talvez, ou apenas a Coleção das Leis Constitutivas dos Estados Unidos, livro que lhe foi apreendido - e procurava nas livrarias tudo que se relacionasse ao assunto, de modo aberto; a ninguém se furtava essa preocupação. Estava entusiasmado pelo assunto, era loquaz, procurava convencer as pessoas de suas idéias, andava apressado, agitado. Procurando traduzir os textos franceses, andava com dicionários. Esse modo de ser e de agir, reflexo de uma personalidade exaltada, foi razão das alcunhas que lhe foram apostas.
Os Apelidos
Além da própria palavra "tira-dentes", chamavam-no de “gramaticão”, "o corta-vento", "o República", "o Liberdade".
IV. AS INFLUÊNCIAS LIBERTÁRIAS
O Iluminismo e a Revolução Norte-Americana
Uma das ramificações intelectuais da atividade de Tiradentes era o interesse pela Revolução Norte-Americana e pelo Iluminismo. Seu envolvimento com as teorias iluministas parece ter sido visceral, tendo-o levado às posições radicalizadas do processo conspiratório. Várias vezes aparecem referências de Tiradentes à necessidade de "restaurar" a pátria. Assim se dirige ele ao Padre Manoel Rodrigues da Costa, em conversa na hospedaria de João da Costa Rodrigues, em Varginha do Lourenço, quando o Padre lhe contra-argumenta que falar em levante era crime:
"Isto não é levantar, é restaurar a nossa terra".
E também ao bacharel Lucas Antônio Monteiro de Barros:
"Não diga levantar, é restaurar",
repetindo várias vezes a explicação.
De fato, para os iluministas, a revolução não era crime, porque se propunha a restaurar as liberdades primitivas que se haviam tirado ao homem pela deturpação progressiva de seu estado natural. As várias referências do Alferes à restauração social são uma prova inconteste de seu afinamento com as teorias revolucionárias do século XVIII, desenvolvidas na França e nos Estados Unidos por Rousseau, Voltaire, Jefferson, Franklin e outros, a partir do esquema teórico anterior de John Locke.
V. AS PROFISSÕES
A Profissão de Dentista
A profissão de dentista prático conseguira, sem dúvida, com o padrinho, Sebastião Ferreira Leitão. Teria ficado sob a guarda e instrução do padrinho dentista, por oito anos, tempo suficiente para aprender os segredos da arte odontológica e aprimorar os estudos com leituras científicas. Sua letra e seu estilo de redação eram superiores ao da maior parte dos homens de seu tempo.
O Talento como Dentista
Sobre o talento de Joaquim José da Silva Xavier como dentista não pode pairar dúvida. São várias e insuspeitas as referências a essa arte no processo dos inconfidentes. O Alferes Xavier não fazia apenas extrações; há provas de que punha e tirava dentes, com extraordinária perfeição.
O Curandeiro
Tinha também, como ele mesmo disse, "alguma inteligência de curativo", ou seja, praticava a medicina básica. Esse conhecimento viera de suas longas viagens pelos sertões mineiros, de seus próprios conhecimentos relacionados com a odontologia e de sua amizade com seu primo naturalista, Frei Velloso. O próprio Vice-Rei, pouco antes de mandar prendê-lo, usa de um subterfúgio para que permanecesse no Rio e não voltasse a Minas: ao ser procurado por Tiradentes para que explicasse a razão de estar sendo seguido por soldados disfarçados e para que explicitasse as suspeitas que por ventura tivesse, o Vice-Rei desconversa, elogia Tiradentes e diz que não se preocupasse e ficasse, que o povo o queria ali, era conhecido de muita gente, inclusive músicos.
No Rio de Janeiro, pelo menos, há notícias de que granjeara fama como curandeiro. Tiradentes curara uma moça, solteira, de 31 anos de idade, de uma ferida no pé, que havia se transformado em chaga e ameaçava ulcerar com o prolongamento da doença por vários anos. A moça, filha de Dona Inácia Gertrudes de Almeida, havia-se tratado antes com vários professores de Medicina, os quais chegaram a desenganá-la, afirmando ser a doença incurável por já ter se tornado cancerosa. Uma pessoa do povo, uma mulata indicou a ela o Alferes mineiro, que, depois de tratá-la, visitando-a várias vezes, curou-a, usando medicamento líquido. mãe da jovem, agradecida ao Alferes, consentiu em conceder-lhe esconderijo naqueles dias em que se viu perseguido. Não poderia abrigá-lo em sua própria casa, visto ser viúva, o que lhe poderia acarretar a maledicência do povo, sendo o Alferes um homem solteiro; entretanto, pediu ao seu sobrinho e hóspede, Padre Inácio Nogueira Lima, que o encaminhasse à casa de Domingos Fernandes da Cruz, na Rua dos Latoeiros. Ali seria preso.
O Mascate
As poucas referências sobre essa fase da vida do Alferes demonstram que com cerca de 19 ou 20 anos de idade já estava comerciando por conta própria, em viagens com tropas de muares. Vivendo do comércio ambulante a partir dos 18 ou 19 anos, fazendo freqüentes viagens entre São João Del Rei, Vila Rica e o Rio de Janeiro, chegou a comerciar no norte de Minas e provavelmente até na Bahia. Nesse período não acumulou renda considerável, dedicando-se também à prática de dentista itinerante.
VI. AS POSSES E OS BENS
A Posição Econômica
Resta-me analisar um outro ângulo da vida do Alferes: sua posição econômica. Joaquim Norberto chamou-o de "pobre e louco". Outros chegaram à conclusão de que Tiradentes era, dentre os conspiradores, um dos menos dotado intelectual e economicamente. Seria isso verdade? Quanto a ter sido louco e intelectualmente frágil, creio que nas páginas seguintes oferecerei subsídios suficientes para que os leitores tirem suas próprias conclusões. Vejamos então os bens que possuía ao ser preso, aos 42 anos, com rendas de soldo como oficial (24$000 réis) e rendimentos variáveis como dentista: 1. Uma pequena fazenda no lugar denominado Rocinha da Negra, na freguesia de Simão Pereira, caminho do Rio, perto do Porto do Meneses, Registro do Paraibuna; tinha 8 sesmarias de medida (aproximadamente 50 quilômetros quadrados); ali havia casas, senzala e monjolo; foi-lhe seqüestrada (avaliada por 700$000 reis - equivalente a 30 meses de seu soldo), mas João Alves Ferreira, ferreiro, conseguiu provar que Tiradentes já lhe tinha vendido; 2. Algumas terras em local indefinido, que foram arrematadas em 1794 por João Rodrigues de Macedo; avaliadas em 50$075 réis; 3. Gado, arrematado na praça de Pitangui, por Antônio Alves de Azevedo; não é possível saber a quantidade e o valor, mas vinte anos depois, em 1811, o arrematante pagou 50$005 réis de imposto sobre esse gado; 4. Um crédito de 220$000 réis contra Luís Pereira de Queirós (equivalente a 9 meses de seu soldo); e) um crédito de 200$000 réis (8 meses de soldo) contra José Pereira de Almeida Beltrão; 5. Três escravos homens (Francisco Caetano, Bangelas e João Camundongo - que foram entregues ao carcereiro de Vila Rica) e uma escrava (Maria Angola) que tinha uma "cria" de dois anos de idade (Jerônimo); a escrava e seu filho foram, depois, levados pela mãe da filha de Tiradentes, Antônia Maria do Espírito Santo, que provou que o Alferes já lhos havia dado; 6. Alguns instrumentos de farmácia, 4 livros, 3 fardas de escravos, 1 farda de oficial, 4 navalhas de barbear, 1 canivete de aparar penas de escrever, 1 espelho, esporas, uma bolsa com "ferrinhos de tirar dentes" (arrematada por Francisco Xavier da Silveira); 7. Um relógio de bolso, inglês, com duas caixas de prata, mostrador de esmalte, marca S. Ellios, com o n.º 5.503 (está hoje no Museu da Inconfidência em Ouro Preto), arrematado por José Mariano de Azeredo Coutinho.
A avaliação judicial dos bens de Tiradentes ficou em 797$979 réis. Essa soma representa quase o dobro da realizada nos bens de seu comandante o Tenente Coronel Francisco de Paula Freire de Andrada (480$300 réis) e muitas vezes maior do que a de Tomás Antônio Gonzaga, Ouvidor Geral e Desembargador. Concluo que Tiradentes não era rico, era um oficial médio, com créditos e débitos, pagava aluguel, tinha rendas esparsas como dentista, alguns pedaços de terras e poucos bens pessoais. Era um homem como a maioria de seus contemporâneos, talvez um pouco acima da média.
Do mesmo modo que se lhe não podem comparar as estaturas intelectuais de Tomás Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e Luís Vieira da Silva, assim não se deve fazer com à fortuna de Domingos de Abreu Vieira, Cláudio Manoel da Costa, Inácio Alvarenga Peixoto, da família da mulher de seu comandante, Tenente Coronel Francisco de Paula Freire de Andrada, muito menos com a de João Rodrigues de Macedo ou José Aires Gomes, talvez os dois homens mais ricos de Minas Gerais; um, banqueiro, o outro, o maior fazendeiro de Minas em extensão de terras.
VII. OS VALORES, AS POSSES E AS RELÍQUIAS DE FAMÍLIA.
Tiradentes não era, como às vezes se diz, um mulato claro. Era filho de pai português e mãe brasileira. Família que surgiu abastada, no Sítio do Pombal, do que também desde logo se revelou proprietária. A mãe de Tiradentes, Antônia da Encarnação Xavier, nasceu em 12 de abril de 1721 na Vila de São José (um ano depois de desmembrada da Província de São Paulo), filha legítima do português Domingos Xavier Fernandes e de Dona Maria de Oliveira Colaço, nascida na cidade de São Paulo. Os nomes de família indicam por si mesmos uma posição elevada da origem portuguesa e paulista. Diogo de Vasconcellos tem boas palavras para esse patriciado, no livro História Antiga das Minas Gerais. Tiradentes teria, sim, como convém por um lado à sua origem bandeirante, um sangue indígena (mameluco?), o que pode explicar seu nomandismo de Alferes, o seu grande apego à terra e o seu conhecimento de raizeiro. Nesse aspecto se destaca a imediata influência de um conhecimento indígena. A mãe, como moderadamente se acredita, é a grande transmissora da cultura oral e a fonte primeira para os valores religiosos, atávicos e nacionais no sentido da linguagem do corpo e do calor do sangue. Para se mostrar o que se fazia, mas também o que se tinha e se usava, é bom atentar para os bens relacionados no testamento do pai de Tiradentes. Domingos da Silva Santos deixa bens no valor de dez contos e quarenta e seis mil e novecentos e trinta e cinco réis (Réis 10:046$935) para repartir entre seus herdeiros.
Nesse valor estão inclusos 35 escravos de Angola e Benguela. Só os escravos valeriam 274 milhões de cruzeiros (CR$ 274.000.000,00), em cálculo do preço de oitavas de ouro em março de 1992. Esses escravos valiam em média Rs 150$000 (cento e cinqüenta mil réis); ora, as duas casas da família, em São José del-Rei, valiam apenas Rs 280$000, sendo elas forradas, assoalhadas e cobertas de telhas. O nível social da família, sua usança de baixelas de prata e estanho, como se relaciona no dito testamento era alto e de bom gosto. Os bens móveis, incluindo a famosa Nossa Senhora da Ajuda e outras imagens, também despertam interesse nos estudiosos. Eles mostram as devoções e a importância dada às coisas do sagrado, sendo de acordar-se que Tiradentes veio a ter dois irmãos padres, alargando-se o convívio eclesiástico da casa paterna. Havia cálice e patena, no calor de Rs 25$000, um prato e suas galhetas, no valor de Rs 9$600, ou ainda “ornamento roxo e seo frontal”, valendo Rs 40$000; outro “ornamento” ou paramento, no montante de Rs 6$000, bem como cinco portadas de cortinas de damasco, dois castiçais de prata de Rs3$000; finalmente ali se encontravam um missal, um crucifixo – em posse da Família Gonçalves Medeiros Cruz descrita na 10ª Parte deste trabalho - e seis imagens, incluindo a de Nossa Senhora da Ajuda, a qual, só ela, valia Rs 8$600. Para 35 escravos do sexo masculino, ocorria apenas a escrava Isabel, negra-mina, com duas “creolas, Antônia e Clara”, suas filhas naturais, sendo Antônia filha de Isabel. Isso evidencia que a Fazenda do Pombal era uma mineração, onde o braço é essencialmente masculino. Além disso, ainda hoje existem vestígios de dois aquedutos que levariam água do Rio Carandaí para a dita fazenda. Daí nossa suspeita bem mineira de que as 84 oitavas de ouro em pó, relacionados no valor de Rs 40$800, no testamento, eram um peso mui exíguo. Haveriam escondido o restante do ouro em pó, ou as pepitas levadas pelos aquedutos? Animais, quase não os havia: uma vaca, dois porcos e dois cavalos. O relacionamento da família com o poder religioso era expressivo. Chegava a um débito, constante do inventário, de Rs 390$550, maior que o valor das duas casas juntas e seus sítios na Vila São José. Se certa a pesquisa e doutrina de Fustel de Coulangens, em A Cidade Antiga, segundo a qual as famílias se enraízam no solo onde se abrigam os ossos dos antepassados, os gastos de Rs 87$600 somente com o funeral da defunta dona Antônia indicariam que a família era portadora de uma antiga tradição. CustasAs custas judiciais montam a Rs 49$285 em 07-07-1757, quando é cumprido, finalmente, o testamento de Domingos da Silva Santos. Cada herdeiro afinal, em face da meação e das dívidas civis, religiosas e judiciais, aufere apenas Rs 483$187, preço dos três escravos ou de três casas semelhantes às duas antes referidas, em São José del-Rei. Tiradentes foi um elemento bem representativo de sua época, de seu meio, da cultura política e religiosa e das atividades econômicas da região. Recebeu herança de Rs 483$187 e, ao morrer, seqüestraram-lhe Rs 797$979, valor de diversos bens como um relógio inglês de “duas caixas de prata”, no valor de Rs 12$800 e um “machinho castanho Rosilho”, avaliando em Rs 10$000. Ele foi, portanto, também trabalhador e próspero. Não se lhe pode reduzir a altitude humana, ou seu tipo de mineiro antigo.
Os Silva Xavier não desapareceram na voragem da História, estando os descendentes de sua irmã caçula, Dona Antônia Rita de Jesus Xavier, espalhados por toda Minas Gerais, norte de São Paulo e Rio de Janeiro. Dona Antônia Rita deixou inúmeros herdeiros, casada que foi com Francisco José Ferreira de Souza, “abastado proprietário da vasta Fazenda de Piauhy, sita no distrito do Arraial Velho, termo de Queluz, hoje Cons. Lafaiete”. Esse termo pertencia à Comarca do Rio das Mortes, hoje a de São João del-Rei. Escrevendo-se a História não se tem a liberdade da obra de ficção, embora as perguntas permaneçam mesmo ao arrepio dos fatos. Isso servirá pelo menos para futuras pesquisas sobre o pouco conhecimento que se tem da vida real dos grandes vultos da Inconfidência. As linhas gerais constantes do saber oficial parecem pobres demais, ou ocultam algo que destoa da grandeza dos nossos primeiros povoadores. É certo que eles eram cidadãos atualizados, marchando dentro das idéias mais progressivas do seu tempo. Não eram apenas devedores do fisco colonial nem somente vítimas da anunciada derrama, nem eram mestiços incultos, revoltados e visionários. Entre esses nossos antepassados avulta Joaquim José da Silva Xavier, personalidade rica, dotado de muitas facetas, como o seu próprio meio familiar de proprietários, padres e mineradores. Sua vivacidade intelectual o levava a ler a Constituição americana, a ser dentista, a exercer os seus conhecimentos mineralógicos.
Em 1774, Tiradentes é recomendado, pelo governador Luiz da Cunha Menezes, ao cel. Manoel Rodrigues da Costa, para a sua expedição de interesse minerador. Xavier da Veiga, nas suas Efemérides Mineiras, diz que a família do Alferes era laboriosa, honesta e estimada, parecendo, porém, reduzir ou ignorar o testamento acima analisado, dizendo que essa família era de “modestos recursos”. Ainda assim, Tiradentes não era o tipo do indivíduo revoltado, do desajustado ou do ambicioso corroído pela inveja. O Pombal está hoje esquecido junto ao Rio das Mortes.
VIII. A APARÊNCIA
Volvamos nossos olhos pára outro aspecto da vida de Tiradentes. Qual era sua aparência pessoal? Os quadros referentes a Tiradentes são todos imaginários. Foram feitos no fim do Império ou início da República, ou seja, mais de um século depois de sua existência. Em 1789 Tiradentes tinha 42 anos, era branco, pois seus pais assim o eram; dois irmãos seus foram padres, e ele próprio era oficial, e para essas funções era indispensável ser branco. Andava fardado, obviamente; sua farda era azul forrada de vermelho, e adornada com fios prateados e muito provavelmente não usava barba, apenas bigode. Há documentos de vários oficiais no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, nos quais descrevem-se os traços fisionômicos, incluindo a barba. Ou seja, ao contrário do que se pensa, os oficiais não eram obrigados a se tosquiar. Entre os pertences que lhe foram seqüestrados em sua casa encontravam-se duas navalhas novas de barbear. Depois de enforcado, seqüestram-lhe no cárcere mais duas navalhas de barbear e um espelho. Os soldados do tempo, à moda dos franceses, usavam bigodes cujas pontas desciam ao redor dos cantos da boca, além de que o costume geral masculino era o rosto raspado, como o atestam os retratos dos reis e vice-reis. Tiradentes, ao ser perseguido no Rio naqueles dias de sua prisão, revelara que descobrira estar sendo seguido por dois granadeiros que, como disfarce, haviam raspado o bigode. O normal, pois, era o militar usar bigode. Mais: o uso do bigode era obrigatório. Aos 42 anos, Tiradentes era grisalho e nessa particularidade está a única prova existente sobre sua aparência física.
IX. OS AMORES
O Alferes Joaquim José da Silva Xavier morreu solteiro. Mas deixou descendência: uma filha, de nome Joaquina, de sua união com Dona Antônia Maria do Espírito Santo - órfã do pai, Antônio da Silva Pais - e que vivia em Vila Rica em companhia dá mãe, Maria Josefa da Silva. A mãe da filha de Tiradentes tinha cerca de 16 a 17 anos de idade quando foi por ele engravidada. O namoro deve ter durado no período de maio de 1786 a fevereiro de 1787. O Alferes assumiu a paternidade, prometendo casar com Antônia, tendo revelado seu intento ao colega de Regimento, Ventura Mendes Barreto. Batizou a filha em 31 de agosto de 1786 na Igreja Matriz de Vila Rica, convidando para padrinho um dos comerciantes mais ricos da Capitania, Domingos de Abreu Vieira, seu companheiro no movimento conspiratório. Tiradentes obtivera um terreno, em dezembro de 1785, na Rua da Ponte Seca, para construir uma casa; ali, em 1804, no censo da população, foi notada a residência de Maria Josefa, a sogra putativa. O Alferes era um homem de 40 anos quando engravidou Antônia Maria do Espírito Santo, menina-moça órfã. Viajava muito; naqueles anos passou a maior parte do tempo no Rio de Janeiro. Em um de seus regressos, descobriu que Antônia não "procedera bem" e por isso rompe a promessa de casamento e devolve a menina e a filha à sogra. Tiradentes deixou-lhes alguns poucos bens e uma escrava além, provavelmente, da casa, na qual, 17 anos mais tarde, seria recenseada sua sogra, na Rua da Ponte Seca. O Alferes passou a morar em casa alugada, na Rua de São José, pertencente ao
Padre Joaquim Pereira de Magalhães.
Pouco se diz sobre a pessoa do herói. Era ou não pobre? Pelos Autos da Devassa vê-se que era abastado. Agora, C. Cunha Corrêa lança romance sobre um dos amores de Tiradentes.
A moça teria se fixado na terra do autor, em Dores do Indaiá, "onde o Pedro da Zica é a cara dele", afirma o prefaciador Fenelon Ribeiro. Além da liberdade, as paixões de Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa tiveram os seus amores. As liras e poesias dedicadas a Bárbara Heliodora e Marília de Dirceu já são conhecidas.
Mas o nosso herói primeiro, Tiradentes, mártir da Inconfidência, sempre foi visto como um homem só, como alguém que lutou pela liberdade dos homens, apenas um militar, embora versado em mineralogia e um exímio tratador de dentes.
No entanto, no livro Amores do Inconfidente, de C. Cunha Corrêa, da Mazza Edições, o autor, cujo livro Serra da Saudade (de 1948) foi citado por Gilberto Freire na 6ª edição de Casa e Grande e Senzala, romanceia, baseado em pesquisas próprias, uma história de amor do Alferes. Segundo ele, Tiradentes teve, sim, um grande amor: Eugênia Joaquina da Silva, que lhe deu dois filhos e uma paixão desmesurada. Segundo o prefaciador, Fenelon Ribeiro, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, “a descendência está aí oficialmente reconhecida e certa de ter o gene, o DNA, daquele que mexeu no “bigode da onça”. Ele afirma, inclusive, que em Dores do Indaiá, onde Eugênia se fixou, a geração antiga pode certificar a presença do sangue do enforcado em seus descendentes. Diz ele: “É preciso conhecer Pedro Zica, parecido no físico e nos modos com Tiradentes, para não se duvidar dessa realidade.” Portanto, para Fenelon, C. Cunha Correa
“romanceia a história verídica da relação do herói maior com uma órfãzinha, do que resultou dois filhos, sobrevivendo apenas o varão, que deixou numerosa prole.” Uma grande paixão: Dona Eugenia Joaquina. A história de Tiradentes se passa em Ouro Preto. Derrame de pedras, vigilância redobrada. Cartas régias cruzam o Oceano Atlântico em pleno século XVIII. Toneladas de ouro, preto de suor e sangue dos escravos, “saltavam prestes da terra dadivosa aos carumbés para pábulo do fausto da corte lisboeta.” Esse é o cenário de Amores do Inconfidente. E o Alferes, logo nos primeiros capítulos, deixa escapar para Eugênia Joaquina da Silva, que seria o seu grande amor, quando esta manifesta o desejo de ser sua escrava, se ele lhe salvasse a mãe. “Não me diga nunca essa palavra que tanto me aborrece: já os pretos são escravos dos brancos, os brancos escravos dos verdugos gananciosos que Lisboa nos manda e que aqui se enriquecem à custa de tantos escravos e oprimidos. Escravidão, vexames, flagelos, que pesam sobre nós e de que não sei quando Deus nos livrará.” O Alferes torna-se amante de Eugênia, em meio a uma sociedade de chagas malignas. Intrigas, invejas, maledicências. Um amor escuso, não revelado, que gerou dois filhos: João Beltrão e Joaquina (que morrera). Eles não se proclamavam como tal, porque os descendentes de Tiradentes eram considerados espúrios e foram apagados do registro da história.
O Filho Exulta

Somente em abril de 1831, quando se comemorava a abdicação de Pedro I, em meio à exultação geral João explodiu:

“Viva meu pai, o Tiradentes”.

“Assombro! Pasmo! Surpresa em todos os rostos!“ Estremecimento de Eugênia, sem uma pinga de sangue na face. O insólito daquele “viva”, como que estarrecia a todos os presentes que, atônitos, suspensos, se voltaram para Beltrão, agitado, trêmulo, lágrimas bailando nos olhos. Diante daquele espanto, ele, conturbado, pôde apenas bradar de supetão: “Perguntem a essa mulher martirizada quem é o meu pai”, descreve C.Corrêa. O autor nasceu em Dores do Indaiá, Minas Gerais, em 10 de agosto de 1882, e faleceu no Rio de Janeiro, em 23 de outubro de 1951, aos 69 anos. Era advogado, promotor, delegado e pesquisador. Estudou a etnia, formação da sociedade e a genealogia da região Oeste de Minas, inclusive os caminhos de penetração das Entradas e Bandeiras na região de Dores do Indaiá.
X. A DESCENDÊNCIA
De sua união com Dona Antônia Maria do Espírito Santo, filha de Antônio da Silva Pais e de
Dona Maria Josefa da Silva.

1. Joaquina.
Batizada em 31 de Agosto de 1786, na Igreja Matriz de Vila Rica.

Da união com Dona Eugenia Joaquina da Silva:

2. João de Almeida Beltrão.
Casado com Dona Maria Francisca da Silva
XI. A ÁRVORE GENEALÓGICA
Arthur Rezende, em suas pesquisas para a obra Genealogia Mineira descobriu uma bisneta de Tiradentes, ainda viva: Dona Carolina Augusta Cesarina, nascida nos Quartéis-Gerais, município de Indaiá, em março de 1819 e falecida em Uberaba em 30 de Setembro de 1905. Dona Carolina Augusta foi casada com Antonino Alves de Rezende, falecido em Curvelo, Minas Gerais, deixando vasta descendência. Tiradentes e Dona Eugenia Joaquina da Silva teriam tido dois filhos: Dona Joaquina, falecida em menina e João de Almeida Beltrão, que foi casado com Dona Maria Francisca da Silva. Foram pais de nove filhos, com geração que chega aos dias de hoje.
XIII. A CARREIRA MILITAR
O Alistamento
Alistou-se em 1º de dezembro de 1775, diretamente no posto de Alferes, posição hierárquica intermediária entre o Tenente e o Cabo, hoje não mais existente e que equivaleria ao atual 2º Tenente.

O Regimento de Cavalaria de Minas Gerais estava sendo criado no ano de 1775, por ampliação dos quadros das forças existentes.
O interesse do Vice-Rei ao ordenar essa ampliação dos efetivos era prevenir-se de possíveis ameaças espanholas no Rio de Janeiro e no sul do Brasil.

O Governador de Minas, Dom Antônio de Noronha, que havia sido Coronel de Cavalaria no Regimento de Campo Maior no Alentejo, instala o Regimento em 9 de junho de 1775, convocando elementos civis para a formação dos quadros, já que não havia escolas ou academias militares.

A seleção dos efetivos era feita entre a raça branca, dando-se preferência à nobreza civil e titulada, e apoiando-se em informações pessoais.

A Missão Oficial na Corte
Vários documentos permitem ver passagens da vida militar do Alferes Silva Xavier.

No primeiro semestre de 1777, menos de dois anos após seu alistamento, morava no Rio de Janeiro (em companhia do Alferes Simão da Silva Pereira), em casa alugada de Luís José da Gama, à custa da Fazenda Real, portanto em missão oficial.

Em 1778 e 1779 ainda continuava no Rio, servindo nas forças de defesa contra ameaças externas. Em sua companhia estavam o Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrada e o Capitão Francisco Antônio de Oliveira Lopes; ficaram em Copacabana. Essas forças mineiras voltaram do Rio de Janeiro em setembro de 1779.

A Missão em Sete Lagoas, MG
Já em 1780, no primeiro semestre, está em Sete Lagoas, MG, como comandante do destacamento local, encarregado da guarda do Registro ali instalado, porta de entrada do Vale Médio do Rio São Francisco.

A Missão no Caminho de Vila Rica
Em 9 de abril de 1781, o Alferes é nomeado comandante do destacamento do Caminho Novo, com a finalidade de construir uma variante no caminho de Vila Rica ao Rio de Janeiro, cortando a mata até o Registro do Paraíbuna.

Viaja então em direção a Vila Rica, e há registro de sua passagem pelo caminho de Paracatu em junho daquele ano e em Raposos, no lugar denominado Sítio do Pé Pequeno, em 15 de julho.

No dia 19 desse mesmo mês, o Governador Dom Rodrigo José de Meneses baixa as instruções pelas quais se devia reger o Alferes na construção; o encarregado oficial da obra era o Tenente-Coronel de Auxiliares Manoel do Vale Amado, morador na região a ser cortada pela nova estrada, mas quem se desincumbiu realmente da missão foi o comandante militar.

Sua indicação para a importante missão deve-se atribuir a que se sabia de sua larga experiência em viagens pela região, que há mais de dez anos percorria como comerciante e dentista.

O Caminho Novo
Depois chamado de Caminho de Meneses em homenagem àquele Governador, visava a cortar o sertão bruto na direção do Rio de Janeiro, encurtando o caminho existente que passava por São João Del Rei, fazendo um acentuado arco.

Tiradentes se apresentou na casa do Tenente-Coronel Manoel do Vale Amado em 26 de julho de 1781. Iniciam as picadas com a pequena tropa comandada pelo Alferes e mais oito escravos pertencentes ao Tenente-Coronel. Mas, apenas iniciados os trabalhos, o fazendeiro se queixa de que seus escravos faziam falta aos seus serviços particulares e retira-se da empreitada, deixando ao Alferes o desencargo da missão.

Contando com pouca mão-de-obra, trabalhando lenta, mas intensamente, o Alferes consegue fazer chegar a picada até o lugar em que se instalaria um quartel, chamado de Porto do Meneses, e dali a ligação chega rápida ao Registro do Paraibuna.

Em sua correspondência com o Governador, Tiradentes levanta a possibilidade de se calçar de pedra toda a nova estrada; localiza as pedreiras, indicando-as a Dom Rodrigo de Meneses. A estrada foi sendo construída de 1781 a 1783.

Tiradentes permaneceu destacado no Porto do Meneses, como comandante da tropa militar de guarda do Caminho Novo. Ali ficaria cerca de 5 anos.

Em abril de 1783, escreve, de Barbacena, uma carta ao Governador, relatando missões que efetuara para perseguir e prender bandidos salteadores que infestavam a Serra da Mantiqueira.

Nessa carta demonstra um relacionamento estreito com o maior fazendeiro de Minas em extensão de terras - e futuro inconfidente - José Aires Gomes, em cuja companhia percorre as serras na perseguição.

Outra Missão Importante
Em 1784 aparece o Alferes em outra missão de relevo. O Coronel de Auxiliares Manoel Rodrigues da Costa escreve ao Governador, que a essa altura era Luís da Cunha Meneses, há apenas poucos meses no cargo, sugerindo providências no sentido de serem mais bem guardadas as fronteiras à leste da Capitania, nos limites com o Rio de Janeiro.

Essas áreas eram consideradas "fechadas", isto é, vedadas à mineração e ao cultivo, por razões de segurança tributária.

O próprio fazendeiro indicou ao Governador o Alferes Silva Xavier como a pessoa mais qualificada, no seu entender, para desincumbir-se da missão.

O Governador, então, acatando a sugestão, baixa uma Portaria, de 16 de abril de 1784, nomeando uma comissão militar para estudar o problema in loco.

Como chefe iria o próprio subcomandante do Regimento de Cavalaria de Minas, Sargento-mor Pedro Afonso Galvão de São Martinho. Integrando a comissão deveria ir o Alferes Xavier, devido à sua notória "inteligência mineralógica", nas palavras do próprio Governador.

Sem Promoção
É notório que Tiradentes sempre fora incumbido de penosas, difíceis e arriscadas missões militares. E durante todos os 14 anos em que servira como Alferes não recebeu uma só promoção, apesar de sempre ter se portado com extremo zelo e dedicação ao serviço militar.

Era pessoa da confiança não só de seus chefes, mas de muitos soldados que a ele davam procuração para receber seus soldos. Vários de seus colegas de farda foram diversas vezes promovidos.

No seu depoimento na prisão, em 18 de janeiro de 1790, Tiradentes enumerou caso por caso, nome por nome, todos esses colegas passados à sua frente, num desabafo incontido de revolta contra aquele iníquo sistema social.

As Viagens ao Rio de Janeiro
Nos anos seguintes - 1786 a 1789 - começa uma série de viagens ao Rio de Janeiro. Sabemos que nessa fase já estava decisivamente no período conspiratório.

Tiradentes saiu de Vila Rica em 2 de março de 1787 e regressa em 28 de agosto do ano seguinte; permaneceu, pois, quase um ano e meio no Rio.

Ali se dedicaria, além da prática revolucionária, a notáveis projetos de melhoramentos urbanos.

XIV. OS PROJETOS DE MELHORAMENTO URBANO

Tiradentes conhecia bem a maravilhosa cidade do Rio de Janeiro. Conhecia seus morros, que era obrigado a palmilhar, descendo de Minas; conhecia seus arredores, que percorria como dentista prático. Conhecia o povo que também o conhecia e sabia de suas habilidades profissionais. Vivendo viajando, conhecia as paragens onde havia água, mantimentos.

Nessas suas longas estadas na magnífica Baía da Guanabara, sua inteligência logo deve ter percebido a imensa possibilidade que apresentava como porto natural de um grande país; sua necessária e infalível expansão populacional, espremida entre montanhas.

XV. OS PROJETOS TOPOGRÁFICOS
Seus conhecimentos de topografia levaram-no naqueles anos de 1787 e 1788 a intuir fabulosos projetos de melhoramentos urbanos.

Os documentos existentes permitem afirmar que Tiradentes projetou as seguintes obras para o Rio:

1. Abastecimento regular da cidade, pela canalização das águas do
Rio Andarai;

2. Construção de moinhos aproveitando a canalização do rio e mais os desníveis dos córregos Catete, Comprido, Laranjeiras e Maracanã;

3. Construção de um trapiche, isto é, o cais do porto, rudimentar, de madeira, avançando da praia o máximo possível dentro do mar;

4. Construção de armazéns para guarda de gado e outras mercadorias que, desembarcadas, ficavam expostas ao sol, à chuva e aos furtos;

5. Serviço de barcas de transporte de passageiros do Rio a Niterói, na época Praia Grande.

O tempo se encarregaria de aprovar os seus projetos.

Dom João VI realizou a canalização nos moldes do plano, cerca de 30 anos depois.

Em 1889, o engenheiro André Paulo de Frontin, aos 29 anos de idade, trouxe para o Rio, em 6 dias, 15 milhões de litros de água, ao custo de 80 contos de réis, com o emprego de 700 homens e canalizou as águas da Serra do Tinguá, com o mesmo plano básico de Tiradentes, feito 100 anos antes.

XVI. A CONSPIRAÇÃO

As Novidades Européias
Ainda no Rio de Janeiro, Tiradentes conheceu José Álvares Maciel, que havia chegado da Europa com novas idéias políticas e filosóficas.

A Pregação
Já em Minas Gerais, Tiradentes passou a pregar os seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e a Independência do Brasil, organizando, em seguida, juntamente com Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Freire de Andrade e Inácio José de Alvarenga Peixoto, um movimento aliado, ainda, a integrantes do clero. José de Resende Costa e José de Resende Costa Filho, que residiam na atual cidade de Resende Costa - nome em homenagem aos mesmos -, que é localizada a 30 km de São João Del Rei, participaram da Inconfidência Mineira, assim como diversas pessoas de Prados e São João Del Rei.

A Independência Americana
O movimento ganhou reforço ideológico com a independência das colônias americanas e a formação, em seguida, dos Estados Unidos, e era principalmente influenciado pelos ideais de liberdade da Revolução Francesa.

Tiradentes sempre tinha ao seu lado livros sobre a independência norte-americana, sendo que um deles, "Coleção das Leis Constitutivas dos Estados Unidos", foi apreendido por ocasião de sua prisão.

“Libertas Quae Sera Tamem”
Quanto à bandeira para o novo país idealizado pelos conjurados, cuja capital seria a vila de São João Del Rei, decidiu-se, na casa de Cláudio Manoel da Costa, pela proposta de Tiradentes: um triângulo, em honra da Santíssima Trindade, de quem era devoto. O emblema "Libertas quae sera tamen" foi inspiração de Alvarenga Peixoto.

O Papel de Tiradentes na Conspiração
Tiradentes teve papel destacado na conspiração e sua participação era decisiva. Entregara-se de corpo e alma ao movimento, literalmente; a independência do país tornou-se o motivo de sua vida.

Radicalizou suas posições a ponto de não se importar com a entrega da própria vida.

Naquela revolução, preparada silenciosamente por homens notáveis (intelectuais, padres, banqueiros, comerciantes), encontrou a saída pára suas aspirações de revolucionário visceral.

Seu modo de agir - que mais tarde seria motivo de crítica para historiadores - contrastava com o dos outros conspiradores. Falava abertamente sobre a necessidade da revolução; pregava-a em qualquer lugar em que estivesse.

Sabia-a do desejo dos mineiros e por isso não receava abrir-se com quem quer que seja, nem escolhia o lugar ou o momento.

Assim procedeu nas tavernas, nos bordéis, nas casas de comércio, nos caminhos, no ouvido de uma pessoa ou perante um auditório.

Um fato já percebido pelo historiador Tarquínio J. B. Oliveira merece ser relevado: jamais foi denunciado por qualquer daqueles a quem aliciará.

A denúncia que deu origem à repressão - que começou no Rio de Janeiro, diga-se de passagem - fora feita por um Coronel de Auxiliares, aliciado pelo irmão do Vigário Carlos Correia de Toledo.

Realmente, mais tarde, Tiradentes se abrira com Joaquim Silvério dos Reis, mas não foi este o motivo que o levou à denúncia.

A Traição e o Visconde de Barbacena
A conspiração que estava sendo levada a efeito pelos conjurados foi delatada pelo português Joaquim Silvério dos Reis em troca do perdão de sua dívida com a Fazenda Real.

O governador de Minas Gerais, Luís Antônio Furtado de Mendonça, visconde de Barbacena, suspendeu a derrama, que foi considerada o estopim do movimento, e ordenou a prisão dos conjurados (1789).
Todos os principais conjurados foram presos.

XVII. AUTO DA DEVASSA
A Prisão
Tiradentes foi preso no Rio de Janeiro, no dia 10 de maio de 1789, na Rua dos Latoeiros, na casa de Domingos Fernandes da Cruz, que o havia escondido a pedido de Dona Inácia Gertrudes de Almeida que era grata a Tiradentes por ter salvado a vida de sua filha.

O Caráter de Tiradentes
O certo é que o Alferes Silva Xavier tinha caráter excepcionalmente elevado. Tendo a revolução fracassada, apenas dos depoimentos feitos na prisão podemos tirar subsídios para interpretar o caráter e a posição de cada revolucionário. Aí é que se encontra revelado o caráter do Alferes. Suas respostas no primeiro depoimento, em 22 de maio de 1789, são firmes, sem medo, sem comprometer ninguém, sem dar detalhes, sem confirmar nada sobre a participação na conjuração.

Nega tudo.

"Fria negação", segundo o escrivão. Não revela um só fato sobre a conspiração.

Cinco dias depois é interrogado pela segunda vez.
Continua negando tudo.

Leva o depoimento para detalhes sem importância.
Diz que fora Joaquim Silvério dos Reis quem lhe falara sobre alguns “cabeças da revolução”.

Diz que não pode negar, mas não se lembra.
Resiste bravamente.
Não diz nada além do perguntado e rodeia.
No terceiro interrogatório, três dias depois, em 30 de maio de 1789, continua dizendo que não sabia de nada, permanece firme.

É acareado com Joaquim Silvério dos Reis e, provavelmente, deve ter sofrido um abalo – tinha-o como amigo e até aquele momento não sabia que Silvério havia delatado a conspiração.
Nesse momento descobriu que a revolução e os revolucionários já eram do conhecimento dos devassantes.

Ainda que "titubeando" nas respostas, segundo o escrivão, dele não conseguem arrancar nada, mesmo diante de Silvério dos Reis.

Somente no 40º interrogatório, mais de 6 meses depois, em 18 de janeiro de 1790, resolve confessar.

Estava há sete meses preso, incomunicável e já havia decorrido um longo prazo desde o último interrogatório.

A Confissão
E passa a confessar: nega a culpa de todos e assume-a sozinho; diz que planejara a revolução por motivos pessoais; refere-se ao Brasil como um país que poderia ser livre e não simplesmente a Minas Gerais; desabafa contra os representantes do sistema; livra Tomás Antônio Gonzaga e insiste na inocência dele; livra João Dias dá Mota; livra Cláudio Manoel da Costa; livra Antônio de Oliveira Lopes.

O radical revolucionário iluminista do século XVIII entregara a vida.

No fundo, ele já sabiá que teria que ser assim; tempos antes ele já se queixara publicamente de que não encontrava homens dispostos a fazer a revolução. Mas que a faria de qualquer maneira, porque embora não se arranjassem homens...

“havia de armar uma meada tal, que em dez, vinte ou cem anos se não havia de desembaraçar".
Por coincidência, acertou a previsão: vinte anos depois se faria a independência e cem anos depois a República.

A estatura moral de Tiradentes, revelada por seus depoimentos, é que lhe conferiu a grandeza de líder da fracassada revolução mineira de 1789.

XVIII. A SENTENÇA
No dia 20 de abril de 1792, quando foi lida a decisão final, proferida pela Rainha de Portugal, Dona Maria I, a Louca, que comutava a pena de morte em degredo para a África para todos os condenados, menos pára ele, recebeu com serenidade a sua sentença; "sem sair de seu lugar", deu parabéns aos outros, com "ar sincero e moderado"; pediu-lhes muitas vezes perdão pelo que lhes fizera...

Ao seu padre confessor disse:

"Que agora morreria cheio de prazer, pois não levava, após si, tantos infelizes a quem contaminara. Que isto mesmo intentara ele, nas multiplicadas vezes que fora à presença dos ministros, pois sempre lhes pedira que fizessem dele só, a vítima da lei".

Depois da sentença, ainda revelaria mais provas de seu caráter:

Consola os companheiros e, por fim, enfrenta a morte com "rubor nas faces", isto é, não ficou trêmulo, não ficou pálido, subiu sem ajuda os degraus do cadafalso.

Depois de morto, seqüestram-lhe na cela navalhas de barbear e um canivete, que poderia ter usado para abreviar o sacrifício. O suicídio, até bem pouco tempo, por influência da religião, era considerado infamante. Nem por aí o Alferes se deixou infamar.

O Carrasco Chorou
Na manhã de 21 de abril de 1792, um sábado, o carrasco Capitania entrou na cadeia pública do Rio de Janeiro e procurou Tiradentes para vestir-lhe a alva e o capuz. Pediu-lhe, como de costume, perdão pelo que iria fazer; Tiradentes respondeu-lhe:
"Oh, meu amigo, deixe-me beijar-lhe as mãos e os pés",
o que fez.

O carrasco chorou.
Despiu-o completamente e Tiradentes comentou:

"Nosso Senhor morreu também nu, por meus pecados!".
A Caminhada para o Cadafalso
Começou a caminhada, portanto, descalço, com o camisolão branco e um capuz, tendo as mãos amarradas e segurando um crucifixo. Pediu ao Padre confessor que lhe falasse do mistério da Santíssima Trindade.

Entre 8 e 9 horas da manhã de um sábado, partiu andando a pé, ladeado por nove padres, pela tropa do Vice-Rei e diante dos olhares dá população do Rio de Janeiro.

Foi até o lugar da forca sem afastar os olhos do crucifixo, com as "faces abrasadas", olhando de quando em vez para o céu.

Seu confessor falava-lhe sobre a Santíssima Trindade e a ladainha de Santo Atanásio; caminhava com pressa e intrepidez.

A execução foi no Largo da Lampadosa, defronte à Igreja da Lampadosa; o largo hoje é o do Teatro João Caetano.

A tropa formou um triângulo em volta da forca, de costas para o patíbulo.
XIX. O ENFORCAMENTO
A Escada
A escada para a forca tinha mais de 20 degraus e Tiradentes subiu-os devagar, sem tirar os olhos do crucifixo.

A Admoestação do Frei
O Guardião do Convento de Santo Antônio, Frei José de Jesus Maria do Desterro, não se conteve, subiu no tablado e fez ao povo uma pregação, admoestando a sua curiosidade e incitando-o a implorar a Deus a piedade divina; em seguida começou a recitar o Credo, sendo acompanhado por Tiradentes.

O Pedido
Enquanto o carrasco fazia os preparativos, pediu-lhe três vezes que abreviasse tudo aquilo. Depois disso, o carrasco enforcou o Alferes.

O Discurso do Comandante
O Comandante das tropas, Brigadeiro Pedro Álvares de Andrade, leu um discurso preparado.

O Corpo Morto
O corpo de Tiradentes foi retirado e colocado numa carreta do Exército e conduzido para a Casa do Trem (arsenal).

XX. O ESQUARTEJAMENTO
O Destino do Corpo
Ali foi esquartejado: separadas a cabeça, os braços e as pernas; salgadas estas e acondicionadas em sacos de couro, foram preparadas pára o transporte para os locais onde deveriam ser colocadas em exibição e execração pública até que o tempo às consumisse, de acordo com a sentença.

O Tronco
O tronco do corpo foi, provavelmente, entregue à Santa Casa de Misericórdia para enterramento no mesmo lugar destinado à consumação normal das vísceras e restos de doentes indigentes.

Os Quartos
Pela sentença, os quartos de Tiradentes deveriam ficar expostos publicamente em vários locais onde teriam sido praticados atos de Conspiração:

Vila Rica, Varginha – local da estalagem onde Tiradentes se hospedara em 1788, localizado entre Lafaiete e Ouro Branco – e demais sítios de maiores proporções onde ele aliciara partidários.

A tradição oral aponta esses lugares como Barbacena, na época Borda do Campo,
e Bananeiras ou Bandeirinhas, localidade próxima a Lafaiete.

A Cabeça
Para Cebolas, freguesia de Paraíba do Sul.

O Sal
Salgou-se o local onde Tiradentes morava, com o objetivo de evitar o nascimento de plantas no local.

XXI. PATRONO DA NAÇÃO BRASILEIRA
Conseqüências Históricas
Vinte anos após a morte de Tiradentes foi declarada a Independência do Brasil.
Cem anos depois, foi Proclamada a República.

Na década de 1870, os Clubes Republicanos tentaram resgatar a memória de Tiradentes.
Um decreto de 1890 considerou o dia 21 de abril como Feriado Nacional.

Somente em 9 de dezembro de 1965, pela Lei n.º 4.897, Tiradentes foi declarado oficialmente o Patrono da Nação Brasileira.

XXII. A SENTENÇA DE TIRADENTES
Accordão em Relação os da Alçada etc.

Vistos este autos que em observância das ordens da dita senhora se fizeram summários aos vinte e nove Réus pronunciados conteudos na relação folhas 14 verso, devassas, perguntas apensos de defesa allegada pelo Procurador que lhe foi nomeado etc.

Mostra-se que na Capitania de Minas alguns Vassallos da dita Senhora, animados do espírito de perfídia ambição, formaram um infame plano para se subtrahirem da sujeição, e obediência devida a mesma senhora; pretendendo desmembrar, e separar do Estado aquella Capitania, para formarem uma república independente, por meio de urna formal rebelião da qual se erigiram em chefes e cabeças seduzindo a uns para ajudarem, e concorrerem para aquella perfida acção, e communicando a outros os seus atrozes, e abomináveis intentos, em que todos guardavam maliciosamente o mais inviolável silêncio; para que a conjuração pudesse produzir effeito, que todos mostravam desejar, pelo segredo e cautela, com que se reservaram de que chegasse à notícia do Governador, e Ministros porque este era o meio de levarem avante aquelle horrendo attentado, urgido pela infidelidade e perfídia:

Pelo que não só os chefes cabeças da Conjuração, e os ajudadores da rebelião, se constituíram Réus do crime de Lesa Magestade da primeira cabeça, mas também os sabedores, e consentidores della pelo seu silêncio; sendo tal a maldade e prevaricação destes Réus, que sem remorsos faltaram à mais incomendável obrigação de Vassallos e de Catholicos, e sem horror contrahiram a infâmia de traidores, sempre inherente, e anexa a tão enorme, e detestável delicto.
Mostra-se que entre os chefes, e cabeças da Conjuração o primeiro que suscitou as idéias de república foi o Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes, Alferes que foi da Cavallaria paga da Capitania de Minas, o qual a muito tempo, que tinha concebido o abominável intento de conduzir os povos daquella Capitania a uma rebelião; pela qual se subtrahissem da justa obediência devida á dita senhora, formando para este fim publicamente discursos sediciosos que foram denunciados ao Governador de Minas atencessor do atual, e que então sem nenhuma razão foram despresados como consta a folhas 74 folhas 68 verso folhas 127 verso e folha 2 do appenso numero 8 da devassa principiada nesta cidade; e suposta que aquelles discursos não produzissem naquelle tempo outro efeito mais do que o escândalo a abominação que mereciam, contudo como o Réu viu que o deixaram formar impunemente aquellas criminosas práticas, julgo por occasião mais oportuna para continual-as com maior efficácia, no anno de mil setecentos, e oitenta e oito em que o actual Governador de Minas tomou posse do governo da Capitania, e travava de fazer lançar a derrama, para completar o pagamento de cem arrobas de ouro, que os povos de Minas se obrigaram a pagar annualmente, pelo oferecimento voluntário que fizeram em vinte e quatro de março de mil setecentos e trinta e quatro; aceito e confirmado pelo Alvará de três de dezembro de mil setecentos e cincoenta em lugar da Capitação desde então abolida.
Porem persuadindo-se o Réu, de que o lançamento da derrama para completar o computo das cem arrobas de ouro, não bastaria para conduzir os novos à rebellião, estando elles certos, em que tinham oferecido voluntariamente aquelle computo, como um subrogado muito favoravel em lugar do quinto de ouro que tirassem nas Minas, que são um direito real eTn todas as Monarchias; passou a publicar que na derrama competia a cada pessoa pagar as quantias que arbitrou, que seriam capazes de atemorizar os povos, e pretender fazer contemeratio atrevimento, e horrendas falcidades, odioso o suavíssimo e ilustradíssimo governo da dita senhora, e as sábias providências dos seus Ministros de Estado, publicando que o actual governador de Minas tinha trazido ordem para opprimir, e arruinar os leais Vassallos da mesma senhora, fazendo com que nenhum delles pudesse ter mais de dez mil cruzados, o que jura Vicente Vieira da Morta a folhas 60 e Basilio de Brito Malheiro a folhas 52 verso ter ouvido a este Réu, e a folha 108 da devassa tirada por ordem do Governador de Minas, e que o mesmo ouvira a João da Costa Rodrigues a folhas 57, e o Conego Luiz Vieira a folhas 60, verso da devassa tirada por ordem do Vice-Rei do Estado.
Mostra-se que tendo o dito Réu Tiradentes publicado aquellas horríveis e notórias falcidades, como alicerce da infame machine, que pretendia estabelecer, comunicou em setembro de mil setecentos e oitenta e oito as suas perversas idéias, ao Réu José Alves Maciel visitando-o nesta cidade a tempo que o dito Maciel chegava de viajar por alguns Reinos estrangeiros, para se recolher a Vila Rica donde era natural, como consta a folhas 10 do appenso n. 1 e folhas 2 verso, do appenso n. 12 da devassa principiada nesta Cidade, e tendo o dito Réu Tiradentes encontrado no mesmo Maciel, não só approvação mas também novos argumentos que o confirmaram nos seus execrandos projectos como se prova a folhas 10 do dito appenso n. 1 e a folhas 7 do appenso n. 4 da dita devassa; saíram os referidos dois Réus desta Cidade para Vilia Rica Capital da Capitania de Minas ajustados em formarem o partido para a rebelião, e com effeito o dito Réu Tiradentes foi logo de caminho examinando os animos das pessoas a quem falava como foi aos Réus José Aires Gomes, e ao Padre Manoel Rodrigues da Costa; e chegando a Villa Rica a primeira pessoa a quem os sobreditos dois Tiradentes e Maciel falaram foi ao Réu Francisco de Paula Freire de Andrade que então era Tenente Coronel comandante da tropa paga da Capitania de Minas cunhado do dito Maciel; e supposto que o dito Réu Francisco de Paula hesitasse no princípio conformar-se com as idéias daqueles dois perfidos Réus, o que confessa o dito Tiradentes a folhas 10 verso do dito appenso n. 1; contudo persuadido pelo mesmo Tiradentes com falsa asserção, de que nesta Cidade do Rio de Janeiro havia um grande partido de homens de negocio promptos para ajudarem a sublevação, tanto que ella se effectuasse na Capitania de Minas; e pelo Réu Maciel seu cunhado com a phantastica promessa, de que logo que se executasse a sua infame resolução teriam socorro de Potências estrangeiras, referindo em confirmação disto algumas práticas que dizia ter por lá ouvido, perdeu o dito Réu Francisco de Paula, todo o receio como consta a folhas 10 verso e folhas 11 do appenso n. 1 e a folhas 7 do appenso n. 4 da devassa desta cidade, adotando os perfidos projectos dos ditos Réus para formarem a infame conjuração, de estabelecerem na Capitania de Minas uma república independente.
Mostra-se que na mesma Conjuração entrara o Réu Ignácio José de Alvarenga Coronel do primeiro regimento auxiliar da Companhia do Rio Verde ou fosse convidado e induzido pelo Réu Tiradentes, ou pelo Réu Francisco de Paula, como o mesmo Alvarenga confessa a folhas 10 do appenso n. 4 da devassa desta Cidade e que também entrara na mesma Conjuração do Réu Domingos de Abreu Vieira, Tenente Coronel de Cavallaria Auxiliar de Minas Novas convidado, e induzido pelo Réu Francisco de Paula como declara o Réu Alvarenga a folhas 9 do dito appenso n. 4 ou pelo dito Réu Paula juntamente com o Réu Tiradentes, e Padre José da Silva de Oliveira Rolim como confessa o mesmo Réu Domingos de Abreu a folhas 10 verso da devassa desta Cidade; e achando-se estes Réus conformes no detestável projecto de estabelecerem uma república naquella Capitania corno consta a folhas 11 do appenso n. 1 passaram a conferir sobre o modo da execução, ajuntando-se em casa do Réu Francisco de Paula a tratar da sublevação nas infames sessões que tiveram, como consta uniformemente de todas as confissões dos Réus chefes da conjuração nos, appensos das perguntas que lhe foram feitas; em cujos ventículos não só consta que se achasse o Réu Domingos de Abreu, ainda que se lhe communicava tudo quanto nelles se ajustava corno consta a folhas 10 do appenso n. 6 da devassa da Cidade, e se algumas vezes se conferisse em casa do mesmo Réu Abreu sobre a mesma matéria entre elles e os Réus Tiradentes, Francisco de Paula, e o Padre José da Silva de Oliveira Rolim; sem embargo de ser o lugar destinado para os ditos conventículos a casa do dito Réu Paula, para os quaes eram chamados estes Cabeças da Conjuração, quando algum tardava como se vê, a folhas 11 verso do appenso 1 da devassa desta Cidade, e do escripto folhas 41 da devassa de Minas do Padre Carlos Corrêa de Toledo para o Réu Alvarenga dizendo-lhe que fosse logo que estavam juntos.
Mostra-se que sendo pelo princípio do anno de mil setecentos e oitenta e nove se ajuntaram os Réus chefes da Conjuração em casa do Réu Francisco de Paula lugar destinado para os torpes, execrandos conventiculos, e ahi depois de assentarem uniformemente em que se fizesse a sublevação e motim na occasião em que se lançasse a derrama, pela qual suppunham que estaria o povo desgostoso, o que se prova por todas as confissões dos Réus nas perguntas constantes dos appensos; passaram cada um a proferir o seu voto sobre o modo de estabelecerem a sua ideada república, e resolveram que lançada a derrama se gritaria uma noite pelas ruas da dita Villa Rica - Viva a liberdade - a cujas vozes sem duvida acudiria o povo, que se achava consternado, e o Réu Francisco de Paula formaria a tropa fingindo querer rebater o motim, manejando-a com arte de dissimulação, enquanto da Cachoeira aonde assistia o Governador Geral, não chegava a sua cabeça, que devia ser-lhe cortada, o segundo voto de outros bastaria que o mesmo General fosse preso, e conduzido fora dos limites da Capitania dizendo-lhe que fosse embora, e que dissesse em Portugal que já nas Minas se não necessitava de Governadores; parecendo por esta forma que o modo de executar esta atrocissima acção ficava ao arbitrio do infame executor prova-se o referido do appenso n. l folhas 12 appenso n. 5 folhas 7 verso appenso 4 folhas 9 verso e folhas 10 pelas testemunhas folhas 103 e folhas 107 da devassa desta cidade e folhas 84 da devassa de Minas.
Mostra-se que no caso de ser cortada a cabeça do General, seria conduzido à presença do povo, e da tropa, e se lançaria um bando em nome da república, para que todos seguissem o partido do novo Governo consta do appenso n. 1 a folhas 12 e que seriam mortos todos aquelles que se lhe oppuzessem que se perdoaria aos devedores da Fazenda Real tudo quanto lhe devessem consta a folhas 89 verso da devassa de Minas e folhas 118 verso da devassa desta Cidade; em que aprehenderia todo o dinheiro pertencente à mesma Real Fazenda dos cofres reaes para pagamento da tropa consta do appenso n. 6 a folhas 6 verso e testemunhas folhas 104 e folhas 109 da devassa desta Cidade e a folhas 99 verso da devassa de Minas; assentando mais os ditos infames Réus na forma da bandeira e armas que deveria ter a nova república consta a folhas 3 verso appenso n. 12 a folhas 12 verso appenso n. 1 folhas 7 appenso n. 6 da devassa desta Cidade; em que se mudaria a Capitania para São João dâ?TEl-Rei, e que em Villa Rica se fundaria uma Universidade; que o ouro e diamantes seriam livres, que se formariam Leis para o governo da republica, e que o dia destinado para dar princípio a esta execranda rebellião, se avisaria aos Conjurados com este disfarce - tal dia é o baptisado - o que tudo se prova das confissões dos Réus nos appensos das perguntas; e ultimamente se ajustou nos ditos conventiculos o socorro, e ajuda com que cada um havia de concorrer.Mostra-se, quanto ao Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes, que esta monstruosa perfídia depois de recitar naquellas escandalosas, e horrorosas assembléias as utilidades, que resultaria do seu enfame, se encarregou de ir cortar a cabeça do General consta a folhas 103 verso, e folhas 107, e dos appensos n. 4 a folhas 10 e n. 5 a folhas 7 verso da devassa desta cidade a folhas 99 verso da devassa de Minas, e conduzindo-a a faria patente ao povo e tropa, que estaria formada na maneira sobredita, não obstante dizer o mesmo Réu a folhas 11 verso do appenso n. 1 que só se obrigou a ir prender o mesmo General e conduzi-lo com a sua família fora dos limites da Capitania dizendo-lhe que se fosse embora parecendo-lhe talvez que com esta confissão ficaria sendo menor o seu delicto.
Mostra-se mais que este abominável Réu ideo a forma da bandeira que ia ter a república que devia constar de três triangulos com allusão as três pessoas da Santissima Trindade o que confessa a folhas 12 verso do appenso n. 1 ainda que contra este voto prevaleceu o do Réu Alvarenga que se lembrou de outra mais allusiva a liberdade que foi geralmente approvada pelos conjurados; também se obrigou o dito Réu Tiradentes a convidar para sublevação a todas as pessoas que pudesse confessa a folhas 12 appenso n. 1 satisfez ao que prometeu falando em particular a muitos cuja fidelidade pretendeu corromper principiando por expor-lhes as riquezes daquella Capitania que podia ser um Império florente, como foi a Antonio da Fonseca Pestana, a Joaquim José da Rocha, e nesta Cidade a João José Nunes Carneiro, e a Manoel Luiz Pereira, furriel do regimento de artilharia a folhas 16 e folhas 18 da devassa desta Cidade os quaes como atalharam a prática por onde o réu costumava ordinariamente principiar para sondar, os animos, não passou avante comunicar-lhe com mais clareza os seus malvados o perversos intentos confessa o Réu a folhas 18 verso appenso n. 1.
Mostra-se mais que o Réu se animou com sua costumada ousadia a convidar expressamente para o levante do Réu Vicente Vieira da Motta confessa este a folhas 73 verso e no appenso n. 20 chegando a tal excesso o descaramento deste Réu que publicamente formava discursos sediciosos aonde quer que se achava ainda mesmo pelas tavernas com mais escandaloso atrevimento, como se prova pelas testemunhas folhas 71 folhas 73 appenso n. 8 e folhas 3 da devassa desta Cidade e a folhas 58 da devassa de Minas; sendo talvez por esta descomedida ousadia com que mostrava ter totalmente perdido o temor das justiças, e o respeito e fidelidade de vida á dita senhora, reputado por um heroe entre os conjurados consta a folhas 102 e appenso n. 4 a folhas 10 da devassa desta Cidade.
Mostra-se mais que com o mesmo perfido animo, e escandalosa ousadia partiu o Réu de Villa Rica para esta Cidade em março de mil setecentos e oitenta e nove, com intento de publica e particularmente com as suas costumadas praticas convidar gente para o seu partido, dizendo a Joaquim Silvério dos Reis, que reputava ser do numero dos conjurados encontrando-o no caminho perante várias pessoas - Cá vou trabalhar para todos - o que juram as testemunhas folhas 15 folhas 99 verso folhas 142 verso folhas 100 e folhas 143 da devassa desta Cidade; e com effeito continuou a desempenhar a perfida commissão, de que se tinha encarregado nos abominaveis conventiculos falando no caminho a João Dias da Morta, para entrar na rebellião e descaradamente na estalagem da Varginha perante os Réus João da Costa Rodrigues e Antonio de Oliveira Lopes, dizendo a respeito do levante que - não era levantar que era restaurar a terra - expressão infame de que já tinha usado em casa de João Rodrigues de Macedo sendo reprehendido de falar em levante, consta a folhas 61 da devassa desta Cidade e a folhas 36 da devassa de Minas.
Mostra-se que nesta cidade falou o Réu com o mesmo atrevimento e escandalo, em casa de Valentim Lopes da Cunha perante várias pessoas, por occasião de se queixar o soldado Manoel Corrêa Vasques, de não poder conseguir a baixa que pretendia ao que respondeu o Réu como louco furioso que era muito bem feito que sofresse a praça, e que o assentasse, porque os cariocas americanos (sic) eram fracos vis de espíritos baixos porque podiam passar sem o julgo que soffriam, e viver independentes do Reino, e o toleravam, mas que se houvesse alguns como elle Réu talvez, que fosse outra cousa, e que elle receava que houvesse levante nas Capitanias de Minas, em razão da derrama que se esperava, e que em semelhantes circunstâncias seria facil de cujas expressões sendo repreendido, pelos que estavam presentes, não declarou mais os seus perversos e horríveis intentos consta a folhas 17 folhas 18 da devassa desta Cidade; e sendo o Vice-Rei do Estado já a este tempo informado dos aborninaveis projectos do Réu, mandou vigiar-lhe os passos, e averiguar as casas aonde entrava, de que tendo elle alguma noticia ou aviso, dispoz a sua fugida pelo sertão para as Capitanias de Minas sem dúvida para ainda executar os seus malévolos intentos se pudesse occultando-se para este fim em casa do Réu Domingos Fernandes, aonde foi preso achando-se-lhe as cartas dos Réus Manoel José de Miranda, e Manoel Joaquim de Sá Pinto do Rego Forte, para o Mestre de Campo Ignácio de Andrade o auxiliar na fugida [...]
Portanto condenam ao Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes Alferes que foi da tropa paga da Capitania de Minas a que com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas publicas ao lugar da forca e nella morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Villa Rica aonde em lugar mais publico della será pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes pelo caminho de Minas no sitio da Varginha e das Sebolas aonde o Réu teve as suas infames práticas e os mais nos sitios (sic) de maiores povoações até que o tempo também os consuma; declaram o Réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens applicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Villa Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados e no mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a infamia deste abominavel Réu; igualmente condemnam os Réus Francisco de Paula Freire de Andrade Tenente Coronel que foi da Tropa paga da Capitania de Minas, José Alves Maciel, Ignácio José de Alvarenga, Domingos de Abreu Vieira, Francisco Antonio de Oliveira Lopez, Luiz Vás de Toledo Piza, a que com baraço e pregão sejam conduzidos pelas ruas públicas ao lugar da forca e nella morram morte natural para sempre, e depois de mortos lhe serão cortadas as suas cabeças e pregadas em postes altos até que o tempo as consuma as dos Réus Francisco de Paula Freire de Andrade, José Alves Maciel e Domingos de Abreu Vieira nos lugares de fronte das suas habitações que tinham em Villa Rica e a do Réu Ignácio José de Alvarenga, no lugar mais publico na Villa de São João de El-Rei, a do Réu Luiz Vaz de Toledo Piza na Villa de São José, e do Réu Francisco Antonio de Oliveira Lopes defronte do lugar de sua habitação na porta do Morro; declaram estes Réus infames e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens por confiscados para o Fisco e Câmara Real, e que suas casas em que vivia o Réu Francisco de Paula em Villa Rica aonde se ajuntavam os Réus chefes da conjuração para terem os seus infames conventiculos serão também arrasadas e salgadas sendo próprias do Réu para que nunca mais no chão se edifique. Igualmente condemnam os Réus Salvador Carvalho de Amaral Gurel, José de Resende Costa Pae, José de Resende Costa Filho, Domingos Vidal Barbosa, que com baraço e pregão sejam conduzidos pelas ruas públicas, lugar da forca e nella morram morte natural para sempre, declaram estes Réus infames e seus filhos e netos tendo-os e os seus bens confiscados para o Fisco e Câmara Real, e para que estas execuções possam fazer-se mais comodamente, mandam que no campo de São Domingos se levante uma forca mais alta do ordinario. Ao Réu Claudio Manoel da Costa que se matou no carcere, declaram infame a sua memoria e infames seus filhos e netos tendo-os e os seus bens por confiscados para o Fisco e Câmara Real. Aos Réus Thomás Antonio Gonzaga, Vicente Vieira da Morta, José Aires Gomes, João da Costa Rodrigues, Antonio de Oliveira Lopes condemnam em degredo por toda a vida para os presidios de Angola, o Réu Gonzaga para as Pedras, o Réu Vicente Vieira para Angocha, o Réu José Aires para Embaqua, o Réu João da Costa Rodrigues para o Novo Redondo; o Réu Antonio de Oliveira Lopes para Caconda, e se voltarem ao Brasil se executará nelles a pena de morte natural na forca, e applicam a metade dos bens de todos estes Réus para o Fisco e Camara Real. Ao Réu João Dias da Morta condemnam em dez anos de degredo para Benguela, e se voltar a este Estado do Brasil e nelle for achado morrerá morte natural na forca e applicam a terça parte dos seus bens para o Fisco e Camara real. Ao Réu Victoriano Gonçalves Veloso condemnam em açoutes pelas ruas publicas, tres voltas ao redor da forca, e degredo por toda a vida para a cidade de Angola, achado morrerá morte natural na forca para sempre, e applicam a metade de seus bens para o Fisco e Camara Real. Ao Réu Francisco José de Mello que faleceu no carcere declaram sem culpa, e que se conserve a sua memória, segundo o estado que tinha. Aos Réus Manoel da Costa Capanema e Faustino Soares de Araújo absolvem julgando pelo tempo que tem tido de prisão purgados de qualquer presumpção que contra elles podia resultar nas devassas. Igualmente absolvem aos Réus João Francisco das Chagas e Alexandre escravo do Padre José da Silva de Oliveira Rolim, a Manoel José de Miranda e Domingos Fernandes por se não provar contra elles o que basta para se lhe impor pena, e ao réu Manoel Joaquim de Sá Pinto do Rego Fortes fallecido no carcere declaram sem culpa e que conserve a sua memória segundo o estado que tinha; aos Réus Fernando José Ribeiro, José Martins Borges condemnam ao primeiro em degredo por toda a vida para Benguela e em duzentos mil para as despesas da Relação, e ao Réu José Martins Borges em açoutes pelas ruas publicas e dez annos de galés e paguem os Réus as custas. Rio de Janeiro,18 de Abril de 1792.
Vas.losGomes Ribrº / Cruz e Silva
Veiga / FigdºGuerreiro / Montrº / Gayoso."

Os juizes que condenaram Tiradentes e assinaram a sentença apenas com o sobrenome foram: Sebastião Xavier de Vasconcellos Coutinho (Chanceler da Rainha); Antônio Gomes Ribeiro; Antônio Diniz da Cruz e Silva; José Antônio da Veiga; João de Figueiredo; João Manoel Guerreiro de Amorim Pereira; Antônio Rodrigues Gayoso e Tristão José Monteiro

Fontes:

Márcio Jardim, A Inconfidência Mineira: Uma Síntese Factual, 1989

Arthur Rezende, Genealogia Mineira

Marcos de Andrade, Tiradentes, Patrono Cívico da Nação Brasileira

"Sentença Criminal", Adalto Dias Tristão, Ed.DelRey, 4ªEd., 1999
http://www.historianet.com.br/home/

Sites:

Marcos de Andrade, Tiradentes, Patrono Cívico da Nação Brasileira
http://sites.uol.com.br/mvcms/Monografia/Tiradentes.htm

Marcelo Lima
http://users.mgconecta.com.br/~sjonline/bibliografia/indice.html

http://www.iof.mg.gov.br/iodiario/comemorativo/21041999/Valores.htm

http://www.madeireiraguaiba.hpg.ig.com.br/Tiradentes.htm

Gen-Minas
http://gen-minas.genealogias.org/

Cantoni 2002
http://www.arquivohistorico-mg.com/piacatuba/batismosTZ.html
Árvore de Costados de Tiradentes
João Monteiro Gomes